Rede SUPRA aumenta a porcentagem de pacientes que recebem tratamento adequado para infarto do miocárdio

[:pb]Por Marcos de Assis
Validação Prof.Dr.Carlos Miranda

Jardinópolis, domingo, 01 de março. Pela manhã, o soldador Reginaldo Donizeti Costa de Souza estava em sua casa em Ribeirão Preto, quando recebeu a ligação de um primo, convidando-o para almoçar. Ele pegou sua moto e partiu com destino a Jardinópolis para curtir a família. Era uma manhã de domingo igual a tantas outras. “Estava tudo bem. Depois do almoço, nós sentamos para conversar e descontrair. Meia hora depois, senti uma dor forte no peito. Comecei a passar a mão perto do coração e tentei segurar a dor só para mim, mas meu primo percebeu e perguntou o que estava sentindo”, conta Reginaldo que explicou: “É uma dor insuportável. É como se alguém apertasse suas costas e o peito ao mesmo tempo e queima, queima muito”.

De acordo com Reginaldo, ele chegou ao hospital em Jardinópolis, levado pelo seu primo, por volta das 16h30 e rapidamente foi atendido pela médica. “Foi rápido o atendimento. Fiz um eletrocardiograma e logo depois, a médica me disse que iria me transferir para um hospital em Ribeirão porque estava tendo um infarto”. Ainda segundo Reginaldo, ele deu entrada na Unidade de Emergência por volta das 18h30.

 


O rápido atendimento que Reginaldo recebeu faz parte do programa Rede Supra, criado há dois anos e que já salvou várias vidas e evitou sequelas

 

Dona Vitória Fraiolli Ramalho é outro exemplo. Ela mora em Santa Rosa de Viterbo, viúva e morando sozinha, ela almoça quase todos os dias na casa de uma das filhas. No dia 20/02, depois de almoçar, voltou para casa para aquele cochilo de sempre. “Acordei passando mal. Mal mesmo. Aquela dor, uma dor forte e comecei a ter ânsia de vômito e doía tudo aqui (passa as mãos na altura do pescoço e rosto) e suava frio”, explica. Ela teve forças para levantar da cama e telefonar para filha que a levou para o hospital de Santa Rosa. “Cheguei lá, o médico nem me colocou na cama, fui atendida na maca e o doutor já chamou dois enfermeiros para fazer o eletro. O atendimento foi muito rápido”, afirma. Feito o exame, o médico chamou a filha dela e disse que seria necessário transferi-la para a Unidade de Emergência do HC, porque ela estava tendo um infarto. Dona Vitória acredita que, desde a chegada ao hospital, em Santa Rosa até a viagem a Ribeirão Preto, durou menos de duas horas.

Reginaldo e dona Vitória não sabiam, mas o rápido atendimento que receberam faz parte do programa chamado Rede Supra. Criado há dois anos, este programa permitiu que vários pacientes da região recebessem rapidamente o tratamento preconizado para o infarto do miocárdio com supradesnível do segmento ST.  “Nós temos até 12 horas para entrar com o tratamento. Depois de 12 horas, os benefícios da intervenção não produzem os efeitos desejados, e quanto mais rápido for instituído o tratamento, melhor é o desfecho para o paciente”, explica o professor e coordenador da Unidade de Emergência, Carlos Henrique Miranda. Segundo ele, “o principal tratamento para esse tipo de infarto é a terapia de reperfusão que pode ser realizada através do cateterismo cardíaco e a implantação dos ‘stents’ ou através do medicamento chamado trombolítico, contudo estas terapias são restritas a hospitais terciários e os pacientes precisam ser encaminhados o mais rápido possível para esses hospitais para a Instituição do tratamento”.

Antes desse programa entrar em execução, “uma parcela dos pacientes chegava depois das 12 horas do início do infarto ou muito próximo das 12 horas e desta forma, pouco poderia ser feito”, esclarece o professor Miranda sobre a necessidade do atendimento ser rápido. Ele completa, “depois das 12 horas, toda aquela região do músculo, onde ocorreu o infarto, morre, tem necrose e aí não adianta você tratar. Por isso, atender rapidamente o paciente com infarto com supradesnível do segmento ST é fundamental para a sobrevivência dele e para se evitar a instalação de diversas complicações”.

Antes da implantação da Rede Supra, “60% dos pacientes recebiam o tratamento adequado dentro das 12 horas. Depois da implantação, subiu para 91%. Ou seja, de cada 10 pacientes atendidos, seis eram recebidos dentro das 12 horas e quatro não. Atualmente, de cada 10, nove estão dentro das 12 horas”, explica o professor Carlos Miranda.

Rede Supra
A Rede Supra é um programa desenvolvido na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas para atender os casos de infarto com supradesnível do segmento ST ocorridos em uma das 25 cidades da Divisão Regional da Saúde (DRS) XIII. Desde o seu início, em fevereiro de 2018, a Rede Supra já atendeu 297 pacientes com suspeita de infarto com supra.

WhatsApp
A ideia de criação da rede começou a surgir há pouco mais de dois anos. Um residente trabalhando em Guatapará, atendeu um paciente com suspeita de infarto. Ele fez o eletrocardiograma e ficou com dúvida sobre o resultado e enviou, por WhatsApp, uma cópia para outro residente da cardiologia, que estava na UE, em Ribeirão Preto, para análise. Confirmada a gravidade do caso, o paciente foi transferido em tempo recorde para a Unidade de Emergência.

A partir dessa experiência, o professor Carlos Miranda e sua equipe avançaram na organização de uma rede para atender casos urgentes no menor tempo. “Em casos iguais a esse, o médico de plantão no pronto atendimento de uma cidade vizinha faz o eletrocardiograma e envia, pelo WhatsApp, para um telefone exclusivo que fica junto com o médico cardiologista de plantão na Unidade Coronariana da Unidade de Emergência. Esse médico analisa o eletrocardiograma e se confirmar o diagnóstico de infarto com supradesnível do segmento ST, a vaga é liberada imediatamente para a transferência do paciente para o nosso hospital, o paciente vem direto, sem necessidade de regulação de vagas. Foi uma maneira simples que encontramos para agilizar a transferência desses pacientes para dentro do Hospital onde eles podem receber o tratamento na hora certa, finaliza o professor e doutor Carlos Henrique Miranda.

 


A Rede Supra funciona como uma orquestra. Todos os integrantes sabem o que e como devem proceder ao receber um paciente com suspeita de infarto com supra

 

Chegada
A Rede Supra funciona como uma orquestra. Todos os integrantes sabem o que e como devem proceder ao receber um paciente com suspeita de infarto com supra. Acionada a Rede pelo profissional, na cidade do paciente, a Unidade de Emergência já se prepara para recebê-lo. “Preparamos todo o ambiente, o leito, monitores, desfibrilador e disparamos o alarme para toda Unidade de Emergência ficar ciente da chegada do paciente e avisamos toda a equipe de hemodinâmica, que é a sala de cateterismo. Quando ele chega tudo está pronto”, explica o cardiologista Fernando Ribeiro.[:]

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