Processo seletivo on-line evita a circulação de pessoas e mostra responsabilidade social

“Nós conseguimos cumprir com a nossa responsabilidade como médicos e com a população”

afirma Hilton Ricz, ao comentar exame de residência médica on-line realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Por: Robert Siqueira

Em um ano de pandemia, o mundo precisou se adaptar às novas formas de realizar algum projeto, já que todas as áreas foram prejudicadas nesse período. E uma das palavras-chave neste processo é “reinvenção”. Na área da educação, por exemplo, vestibulares tiveram a opção de serem realizados de forma on-line.

E foi exatamente o que o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP fez com o processo seletivo para novos médicos residentes. A prova, que inicialmente seria presencial, precisou migrar para a internet e o resultado foi além do esperado.

Com cerca de 4,4 mil participantes, o processo foi um dos maiores do Brasil, por meio on-line, e atingiu seus objetivos, como “manter o nível e a qualidade de todos os processos feitos pelo HCFMRP”, destaca Hilton Ricz, professor da FMRP e coordenador da Comissão de Residência Médica do hospital.

Mas de todos os objetivos alcançados pela prova on-line, o principal deles “foi a responsabilidade social”, garante Ricz. Com um grande número de inscritos, a prova realizada pela internet evitou que milhares de pessoas circulassem pela cidade, dessa forma, o professor comemora: “Nós conseguimos cumprir com a nossa responsabilidade como médicos e com a população”.

Cuidados

Mas realizar um processo como esse requer cuidados especiais, principalmente com relação a possíveis fraudes. Ricz ressalta que o “grande cuidado foi com a segurança”. Para evitar problemas como esses, fiscais garantiam a segurança da prova, também, é claro, de forma remota.

Mas, no caso da prova de residência médica on-line, outra dificuldade também apareceu: transformar um processo presencial em digital. O processo, que estava programado para ser presencial, foi todo remodelado em menos de 60 dias. “Demoramos muito para tomar essa decisão e, quando tomamos, nós tivemos que correr bastante”, ressalta.

O edital precisou deixar claro que problemas de conexão com a internet ou com o computador eram de responsabilidade do candidato. Mas, apesar disso, a organização deixou técnicos de informática à disposição dos participantes, caso precisassem.

O fiscal ainda pedia para que o participante mostrasse, através da câmera, o local onde estava fazendo a prova. Uma curiosidade foi a regra para o candidato ir ao banheiro, situação só permitida quando terminasse a questão em que estava, já que não era possível retornar depois de concluída. “Não corremos risco de fraude, a parte pedagógica foi bem contemplada e a avaliação não foi prejudicada”, comemora Ricz.

Aumento no número de candidatos

O processo deste ano teve um aumento de cerca de 44% no número de candidatos. No último processo seletivo feito, 3,8 mil pessoas se inscreveram. Já neste ano, foram 5,5 mil candidatos – mas nem todos realizaram a prova. O processo avaliou médicos residentes para três tipos de área. A primeira é a chamada de “acesso direto” e avalia os candidatos que acabaram a graduação em medicina e entraram para os programas de residência médica. A outra área é a de “especialidades”, na qual o candidato já deveria ter feito uma residência anteriormente. Por fim, este ano também foram avaliadas as “residências multiprofissionais”.

Outros fatores também contribuíram para esse aumento. Conta Ricz que um dos motivos é o fato de ter crescido, também, o número de médicos formados. Além disso, o processo deste ano foi realizado em apenas uma fase, e não em duas, como de costume. “Habitualmente realizamos a prova teórica, que fizemos neste ano, e uma prova prática, dentro do hospital, mas que precisamos tirar neste ano, em virtude da pandemia.”

Uma dessas candidatas foi Camila Bauli Lima, que foi aprovada e, hoje, atua como residente do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HCFMRP. Ela conta que se preparar para um processo seletivo on-line significou mudanças em sua rotina de estudos, como tentar retirar o hábito de fazer provas no papel, onde é possível riscar, escrever e fazer observações, por exemplo. No processo on-line, nenhuma dessas opções era permitida.

“O que eu fiz de diferente foi tentar me habituar a responder as questões na tela do computador”, destaca ela. Camila conta que tinha o costume de riscar a prova, circulando todas as informações importantes do enunciado e garante, ainda, que “isso fazia muita diferença para mim no raciocínio da resposta”. Mas com a prova on-line e a impossibilidade de fazer anotações, ela diz que precisou se adaptar e “ler e responder na tela do computador mesmo”.

Segurança

Segundo Camila, ela não teve nenhum problema durante a realização da prova e não se sentiu prejudicada “de nenhuma maneira”. Além disso, conta que se sentiu mais segura durante o processo on-line que em uma prova presencial. “Eu tenho o hábito de roer unha, e quando eu levei a minha mão à boca, no meio da prova, apareceu um aviso, para eu tirar”, destaca. “Eu me senti bem vigiada, até mais que quando a sala tinha várias pessoas e apenas um fiscal”, garante.

Mesmo com a segurança em relação a possíveis fraudes de outros candidatos, Camila precisou lidar com a ansiedade e o medo de que algo pudesse acontecer com sua internet ou computador. “Esse foi um ponto que me deixou muito ansiosa”, destaca. Ela julga que esses possíveis problemas são as principais desvantagens em relação à prova presencial, “que você faz e entrega e está garantido que vai ter a sua avaliação”.

Mas, precavida, buscou soluções antes mesmo de iniciar a prova, como acessar o portal com duas horas de antecedência, checar o pacote de dados móveis do celular e até pedir a internet da vizinha emprestada, caso necessário. “Em relação ao sinal de internet, eu tentei me garantir.”

Fonte: Jornal da USP

Sem comentários ainda.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

Translate »