HCRP tem ambulatório de transtornos psicóticos primários
Por Marcos de Assis e Carlos Matheus
O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto possui um ambulatório para atendimento a pacientes com problemas psicóticos que se caracterizam essencialmente pela presença de alterações no conteúdo do pensamento e no sensopercepção. Por ano, são 100 pacientes atendidos e seguidos pela Instituição.
De acordo com a professora da FMRP, Cristina Marata Del Ben, é fundamental que a pessoa que tenha o primeiro surto psicótico seja enviado para atendimento especializado. “Quanto mais cedo começarmos essa intervenção, melhor. Sabemos, por vários estudos epidemiológicos feitos em diferentes partes do mundo, que o tempo de psicose não tratada pior era o prognóstico”.
Assista entrevista na integra – https://www.youtube.com/watch?v=99LvEuMnWZY
O quadro abaixo mostra os sintomas mais comumente observados nos transtornos psicóticos. “Os sintomas mais comuns são delírios e alucinações. Lembrando que esses sintomas são muito característicos de esquizofrenia, mas estão presentes em outros transtornos mentais também. Dentro dos transtornos psicóticos primários, podemos ter quadros com uma duração mais curta, como o transtorno psicótico breve e o transtorno esquizofreniforme. Esses sintomas podem ser induzidos por uso de substâncias ou pela abstinência de substâncias. Eles podem ser induzidos por outras condições médicas. E é muito comum também termos esse tipo de alteração desses sintomas em transtornos de humor, tanto nos transtornos depressivos quanto nos episódios maníacos que caracterizam o transtorno afetivo bipolar. Então, quando falamos em psicose, estamos falando de um diagnóstico sindrômico que abarca várias condições psiquiátricas”.
Atendimento – Foi em razão da demanda, que em 2012, o Hospital das Clínicas criou um ambulatório com capacidade para atender 100 pacientes/ ano para intervenção precoce em psicoses. “Detectamos a necessidade de oferecer algum tipo de serviço especializado para a população. A ideia era poder, o mais precocemente possível, atender as pessoas que estivessem nessas fases iniciais das psicoses. Quanto mais cedo começarmos essa intervenção, melhor”, explica.
A equipe que trabalha nesse ambulatório de primeiro episódio psicótico é vinculada ao serviço de psiquiatria na Unidade de Emergência e uma enfermaria de internação breve.
“Tem o nome breve porque a ideia é fazer internações breves mesmo. Muitos desses pacientes que recebemos dão entrada pela Unidade de Emergência, porque muitas vezes esses pacientes têm uma gravidade de sintomas que se colocam em risco ou colocam outras pessoas em risco, e precisam, nas primeiras semanas de tratamento, de um ambiente protegido, de um ambiente hospitalar”, afirma.
Entre 2012 e 2015, um estudo realizado na região do DRS 13, em Ribeirão Preto, avaliou a incidência de novos casos de psicoses em comparação com 17 centros europeus. O estudo focou na primeira manifestação psicótica, considerando sintomas como delírios, alucinações e comportamento desorganizado. Os resultados mostraram que os sintomas são mais comuns no final da adolescência e início da vida adulta, principalmente entre 18 e 24 anos.
+ Homens – A incidência é maior em homens do que em mulheres, mas no decorrer da vida podem ocorrer casos novos, assim, primeira manifestação de sintomas psicóticos durante toda a vida. “Chamo atenção para quando olhamos na faixa de 45 a 49, 50 a 54, vemos um pequeno aumento entre as mulheres de incidência de psicose, e a explicação para isso atribuímos à fase do climatério, onde temos essa mudança do ambiente hormonal feminino, de que podemos ter casos nessa faixa etária”, conta.
+ Conscientização – “Na verdade, eu acho que o mais importante seria conscientizar os médicos sobre o que é a psicose. Ainda há muito preconceito e estigma, inclusive entre profissionais de saúde. É preciso compreender que isso é uma doença como qualquer outra. Da mesma maneira que o coração ou o pulmão adoecem, o cérebro também adoece. O cérebro é um órgão plástico e se modifica conforme as experiências que temos na vida, então esses fatores ambientais acabam impactando nossa vida. É importante estar atento a essa presença e ter clareza de que quanto mais cedo fizermos a intervenção, melhor”.
De acordo com a professora Cristina Marta Del Ben, a intervenção não é apenas medicamentosa. “As intervenções psicossociais são muito importantes, assim como o trabalho com a família. Temos uma colaboração com a professora Carol Zanetti, da Escola de Enfermagem, que faz um trabalho muito importante com nossas famílias, garantindo a adesão ao tratamento. As pessoas precisam ter um diagnóstico adequado, receber tratamento medicamentoso efetivo baseado em evidências científicas e abordagens psicossociais. Devemos também ficar atentos às comorbidades clínicas desses pacientes, que muitas vezes são negligenciadas. Nosso foco não é apenas reduzir sintomas, mas inserir essas pessoas na sociedade”.
+ Serviços – Para a professora, o serviço oferecido pelo Hospital das Clínicas deveria ser replicado em outras instituições. “Eu falaria com os gestores de saúde. Gostaria de ter um serviço muito maior. Temos apoio da nossa Instituição para fazer nosso trabalho e estamos passando por uma reforma e ampliação de leitos na Unidade de Emergência, com apoio do coordenador da UE, Mauricio Godinho e do superintendente Ricardo Cavalli, para melhorar nossa capacidade de atendimento. Faria um apelo maior aos gestores, pois o custo para o indivíduo, a família e a sociedade de pessoas com transtornos psicóticos mal tratados é muito grande. Precisamos conseguir ampliar e fazer muito mais. Gostaria que isso fosse replicado, que tivéssemos vários serviços com essas características em diferentes partes da nossa região”.
Sem comentários ainda.