No HC, as mulheres representam mais de 70% do corpo funcional, a maioria está concentrada na enfermagem
Ainda não são sete horas da manhã e elas já estão em frente ao cartão de ponto, prontas para mais uma batalha. A rotina que sempre foi dura, agora é duríssima. Cuidar, proteger, paramentar, examinar, medicar, ensinar e descobrir são os verbos conjugados pelas quase 4 mil mulheres que trabalham no Hospital das Clínicas Campus e Unidade de Emergência. Elas têm a receita para seguir em frente: amor e coragem.
Sem parar
Todos os dias, Silvânia Tolentino, técnica de enfermagem, faz uma ginástica para conciliar a rotina da casa e do árduo trabalho no CTI Campus. Mas Silvânia não para e queria mais. Colocou na cabeça que tinha que estudar enfermagem na USP. E assim foi. No ano passado, iniciou os estudos na EERP.
O dia a dia, que já era bastante puxado, se intensificou com a pandemia, mas isso não parece ser um problema para ela. “Sempre gostei de cuidar do outro, quero cuidar, estar ao lado, doar o tempo a outra pessoa”, explica. Mesmo estando no “olho do furacão”, ela não perde a esperança. “O que me faz levantar todos os dias é a crença em um dia melhor, esperança que tudo isso vai passar e vamos tirar dessa pandemia o ensinamento necessário”, completa.
Respirar
Todos os dias, a fisioterapeuta Vivian Américo chega cedinho à Unidade de Emergência com a nobre missão de ajudar os pacientes com COVID a respirar. Um trabalho importantíssimo, pois uma ventilação mecânica malconduzida, como qualquer outro tipo de tratamento, pode acarretar graves prejuízos ao paciente.
Ela conta que o estresse psicológico é enorme. “O tempo todo estamos vivendo com medo de vermos nossos entes queridos doentes, de ficar doentes, de não ter leitos suficientes, fora o cansaço diário e a sobrecarga frente a uma doença tão difícil de se controlar e tratar”, explica.
Para a fisioterapeuta, a rotina intensa e pesada vem acompanhada de uma grande dificuldade, a distância da família. “Para mim, o que ajuda a aliviar é estar próxima de minha família e das pessoas que eu amo, o que neste momento não tem sido possível”.
Mas a Unidade de Emergência está lotada de pacientes que precisam de ajuda para respirar, então Vivian segue em frente. “O que me faz levantar todos os dias e vir trabalhar é saber que posso dar uma assistência de qualidade para os meus pacientes, posso ajudar minha equipe a desempenhar um papel ainda melhor no atendimento dos pacientes”, relata a fisioterapeuta. “Ver pacientes recebendo alta do CTI (local onde trabalho) é extremamente gratificante”, completa.
Alimento para corpo e alma
Mãe de uma menina e diretora da equipe de Nutrição e Dietética da Unidade de Emergência, Tereza Lunardi conta que está lidando com a intensa rotina imposta pela pandemia com “ muita respiração, acupuntura, escuta, resiliência, proatividade”. Estar à frente de uma equipe que prepara cerca 1.400 refeições de pacientes e profissionais não é uma tarefa fácil, especialmente em tempos de pandemia.
Mas a equipe da Tereza, 80% composta por mulheres, está afinada para oferecer ao paciente o melhor atendimento e cuidar de detalhes que só a sensibilidade feminina pode oferecer. Junto com a comida, os pacientes com coronavírus recebem bilhetinhos de inspiração e esperança para que saibam que não estão sozinhos.
Tereza conta que a dura batalha, “vem acompanhada de um sentimento de gratidão, compromisso com os pares e possibilidade de auxiliar e contribuir para o bem-estar dos pacientes”.
Cuidar de quem cuida
Todos os dias, a psicóloga Marcella Ayer, deixa as duas filhas em casa para cuidar da saúde emocional dos mais de 6 mil funcionários. “Aliar a pandemia à rotina das crianças em casa ficou muito intenso, principalmente no que diz respeito à cobrança e ao tempo que a gente pode ter para cada coisa”, explica a psicóloga. “São as duas coisas que mais amo, a psicologia e a maternidade e conciliar isso tem sido difícil, porém essencial. Neste momento, precisamos valorizar esse trabalho para todos, que é o da saúde mental”, confirma.
Cuidar da saúde mental de quem está na linha de frente é uma tarefa importante e Marcella segue em frente. “O amor que eu tenho pela minha profissão e pelas minhas filhas me faz levantar todos os dias. Quero deixar para elas bons exemplos de conduta, de força, de garra, de coragem, de enfrentar os problemas da vida com dignidade, respeito, verdade”, conclui.
#DiasMelhoresParaNós
Elas também estão na linha de frente e, atualmente, foram destacadas para uma missão muito especial, aplicar doses de esperança nos trabalhadores do HC. As enfermeiras Fabíola e Kátia Prado estão trabalhando na campanha de vacinação dos funcionários de saúde.
Fabíola Nascimento é mãe de dois filhos, Alice de nove anos e Lucca de cinco, e conta que foi necessário reorganizar a vida e a rotina para enfrentar a pandemia. “Está sendo um desafio muito grande, mas o amor e orgulho que sinto em ser enfermeira e trabalhar em uma instituição, que hoje é referência no atendimento de pacientes com COVID-19, são muito maiores”, explica. “E estar trabalhando na vacinação contra a doença me traz mais gratificação ainda, por estar ajudando a proteger os meus colegas de trabalho”, completa.
Mãe de dois filhos, Julia de 19 anos e Marcelo de 16, a enfermeira Kátia Prado conta que com a pandemia tudo ficou mais intenso, o cuidado com todos que amamos, o medo, a insegurança em relação ao amanhã se tornaram parte do meu dia a dia. Lidar com a perda e manter o ânimo e a força para mais um dia de batalha não tem sido fácil”.
Mas Kátia carrega com ela algo muito comum nas mulheres, especialmente nas trabalhadoras do Hospital das Clínicas, “o meu amor a minha profissão e ao próximo me faz seguir em frente e não desanimar”, declara a enfermeira. “Cultivo a esperança de que dias melhores virão para todos nós, #DiasMelhoresParaNós”, completa.
Sem comentários ainda.