Departamento de Clínica Médica da FMRP homenageia professor doutor Júlio César Voltarelli

                            Professor Ricardo Cavalli, Clara Voltarelli, professoras Angela Leal, Maria Carolina e Marisa Mussi e professor Antonio Pazin Filho

 

Por Marcos de Assis

 

O Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP realizou solenidade de descerramento da placa da sala de aula 630, em homenagem ao Prof. Dr. Júlio César Voltarell, que faleceu em março de 2012. O evento ocorreu no auditório do Ceaps do Hospital das Clínicas com a presença de professores, funcionários e familiares. 

O professor Voltarelli foi um dos mais importantes pesquisadores em células-tronco no Brasil, integrando o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Células-Tronco e Terapia Celular. Ele coordenou o Laboratório de Imunogenética e a Unidade de Transplante de Medula Óssea do HCRP e foi um dos principais pesquisadores do Centro de Terapia Celular, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID).

Ele graduou-se em medicina em 1972 e fez residência, mestrado e doutorado pela FMRP. Nos Estados Unidos, fez pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em San Francisco, no Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, e no Scripps Research Institute, em San Diego. 

“Olhar para o futuro” –  A professora Maria Carolina Oliveira foi aluna e chefiada pelo professor Voltarelli. Ela compôs a mesa durante a homenagem e em discurso disse ter “gratidão especial pelo professor Júlio, que teve uma contribuição importante para a Faculdade, o Hospital e o Hemocentro. Ele foi uma pessoa que lutou muito para que tudo se desenvolvesse. Ele atuou em várias esferas: graduação, pós-graduação, pesquisa e assistência, marcando sua presença de forma significativa. Ainda vemos a influência do professor Júlio ao nosso redor. Pessoalmente, tenho uma gratidão imensa por ele. Foi meu orientador de mestrado e doutorado, meu chefe durante seis ou sete anos, e a pessoa que abriu muitas portas para mim, mudando minha vida. Tenho uma dívida muito grande com ele”, afirmou a professora Maria Carolina Oliveira.

Para ela, o professor Júlio tinha várias qualidades, e escolheu três para destacar em seu discurso. “A primeira é que ele sempre tinha um olhar para o futuro, com uma certa ousadia. Ele contribuiu muito para a assistência no Hospital e para a pesquisa. Montou o serviço de transplante de medula óssea do zero, enfrentando muitos desafios e conflitos iniciais. Hoje, temos um serviço bastante consolidado e atuante, que oferece um atendimento de qualidade à comunidade.  A segunda qualidade é a capacidade de formar equipes. Ele era uma pessoa muito agregadora, juntando pessoas diferentes em projetos, resolvendo problemas e fazendo com que todos se sentissem importantes sob sua liderança. Isso foi fundamental para o funcionamento eficaz das atividades. Em terceiro lugar, destaco a parte humana. O professor Júlio tinha um jeito irreverente, mas prestava muita atenção nas pessoas, especialmente nos pacientes. Ele valorizava muito isso. Lembro-me, por exemplo, quando fizemos um estudo sobre diabetes que teve repercussão mundial. Recebemos centenas, talvez milhares de e-mails e telefonemas, e ele fazia questão de que respondêssemos a cada um. Dividia os e-mails entre nós e insistia que os pacientes mereciam ouvir nossas respostas”.

Humildade – A professora Ângela Marice de Oliveira Leal, Leal, viúva do professor Voltarelli, afirmou que para ela era “uma emoção muito grande estar aqui de volta depois de tantos anos e falar sobre o Júlio. O Júlio tinha uma característica que talvez fosse a mais importante: a humildade. Uma vez, um aluno colocou em uma tese algo que achei incrível: ‘É preciso ser muito sofisticado para ser simples.’ Eu adorei essa frase, pois acho que define bem o Júlio. Agradeço muito a homenagem em meu nome, em nome dos amigos do Júlio e, principalmente, em nome da minha filha. Em relação ao livro, vocês sabem que outra característica do Júlio era sua tenacidade. Ele foi uma das pessoas mais persistentes e insistentes que já conheci. Esse livro foi um exercício dessa tenacidade e tem um significado muito grande para mim, pois foi uma das últimas coisas que ele fez antes do transplante. Enquanto estávamos em Blumenau, ele fazia a edição. Tenho inclusive os originais com várias anotações nas páginas, que guardei comigo. O livro tem um significado muito grande para mim. Tive a oportunidade de ter acesso privilegiado ao ebook e já o distribuí para meus alunos na Universidade Federal de São Carlos. Essa era outra característica do Júlio: a franquia do conhecimento, tornar o conhecimento disponível e de fácil acesso, com transparência para todos. Essa atitude representa muito bem o Júlio e essa distribuição franca de conhecimento. Além de tudo isso que vocês mencionaram, agradeço muito as palavras em nome da minha filha, dos demais familiares que infelizmente não puderam estar presentes, e dos amigos. Agradeço especialmente ao meu amigo pessoal, Pazin, e a todos vocês. Muito obrigada”.

O evento foi comandado pelo professor Antonio Pazin Filho, que falou sobre o colega.

Professor Pazin, qual a importância dessa homenagem ao professor Júlio Voltarelli?

O doutor Júlio Voltarelli foi um dos maiores pesquisadores e professores do Departamento de Clínica Médica, com reconhecimento internacional em pesquisa. Ele também contribuiu significativamente para a formação de recursos humanos, com vários dos nossos docentes tendo sido seus alunos. Sua influência se estende nacional e internacionalmente em várias faculdades.

Especificamente para a graduação, ele foi um pioneiro na estruturação de um livro de semiologia, cuja primeira edição foi lançada em 2012. Agora, em 2024, uma nova edição foi publicada, disponível gratuitamente online em língua portuguesa. Esse livro é um exemplo da distribuição gratuita do conhecimento que o Departamento, ao completar 70 anos, está oferecendo ao Brasil e ao mundo.

A pesquisa do professor Voltarelli permanece viva?

Ele foi o nosso pesquisador que iniciou os estudos sobre transplante de medula óssea, o que permitiu que o hospital e a faculdade se destacassem em pesquisas com células-tronco e na busca pela cura da diabetes por meio do transplante de medula óssea. Seu nome continua sendo muito conhecido e citado na área.

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