Mais uma etapa foi conquistada no processo de separação das irmãs siamesas Allana e Mariah, que estão sendo cuidadas pela equipe chefiada pelo Prof. Dr. Hélio Rubens Machado. Neste sábado (15), as crianças realizaram exames e procedimentos que vão influenciar na quarta cirurgia, em que será realizada a separação e reconstituição craniana.
No início da manhã, às 8h, as gêmeas fizeram exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética. As imagens obtidas auxiliaram a realização do procedimento que ocorreu em seguida, bem como serão utilizadas para o planejamento da próxima neurocirurgia, que acontecerá no dia 29 de julho.
Em seguida, foram encaminhadas ao Centro Cirúrgico às 10h. A equipe da Cirurgia Plástica, chefiada pelo Prof. Dr. Jayme Farina Júnior promoveu a inserção de expansores de pele. A bolsa é feita em silicone e todo o conjunto (bolsa, catéter e válvula ficam instalados sob a pele. Periodicamente será introduzido soro fisiológico nela, o que garantirá o progressivo aumento de volume e ampliação da pele que recobre a cabeça das meninas. “O planejamento dos cortes de pele nas irmãs Allana e Mariah foi feito de forma que haja tecido suficiente para a cobertura das duas cabeças quando ocorrer a separação total. A expansão que começa a ser feita nos próximos dias vai permitir essa cobertura total”, explica o dr. Jayme Farina Júnior.
A equipe do Hemocentro de Ribeirão Preto também participou do procedimento. Eles fizeram a punção da crista ilíaca (osso do quadril) para a coleta das células-tronco. O material será encaminhado ao Hemocentro, onde será cultivado e preparado para sua futura utilização.
O procedimento terminou por volta das 14 horas. As crianças foram encaminhadas para a recuperação e passam bem.
Inovação
Células-tronco são células colhidas na medula óssea que podem se diferenciar para a produção de diferentes tecidos e formar ossos, cartilagens ou gordura. A partir do procedimento realizado hoje, as células-tronco serão multiplicadas e serão utilizadas para a formação óssea na reconstrução craniana das meninas.
Esta é a primeira vez no mundo que essa tecnologia será utilizada na reconstrução dos ossos de gêmeas craniópagas e é a primeira vez no Brasil em que as células-tronco colaborarão na reconstrução craniana.
Em uma simplificação, os fragmentos ósseos são azulejos e o material que vai conter as células-tronco é o rejunte. Na última cirurgia, quando a equipe da cirurgia plástica for reconstruir o crânio, as células-tronco estarão presentes em dois materiais: o primeiro, uma espécie da massa que preencherá os espaços entre os fragmentos de ossos, e o segundo, um gel que cobrirá e fará uma camada protetora.
A equipe e a família das gêmeas estão otimistas. Dr. Hélio Machado acredita que essa é a primeira vez de um uso de células-tronco muito promissor. “Acredito que essa tecnologia abre uma enorme possibilidade no Brasil. No HC, tratamos muitos pacientes com trauma encefálico. Aliás, o trauma de crânio é endêmico no país, especialmente por acidentes no trânsito e violência. Futuramente, esses casos poderão ser tratados também com as células-tronco”. Já a mãe das meninas, Talita Francisco Cestari, está com boa expectativa, já que as outras cirurgias correram bem e as meninas se recuperam com celeridade. “A tecnologia evolui muito rápido e a Allana e a Mariah estão se beneficiando disso. Nas outras cirurgias elas já contaram com tantas evoluções, como o neuronavegador e a realidade virtual que ajudou os cirurgiões, e agora o uso das células-tronco para ajudar a reconstruir mais rápido o crânio delas”.
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