“Temos uma das melhores estruturas do país”, afirma o coordenador da Unidade de Queimados
A reforma realizada na Unidade de Queimados impacta qualquer um que trabalha ou trabalhou no local antes das obras se iniciarem. Faltam 30% delas e devem ser concluídas em maio. Mas para os funcionários, os 70% em funcionamento significam “outro hospital”.
“É uma mudança gigantesca. Só de entrar, você já sente a diferença de energia do ambiente, fora a parte estrutural. A gente está muito feliz com a reforma e com esse projeto. Ficou muito, mas muito mais adequado para os funcionários e pacientes”, afirma a chefe da enfermagem Alessandra Dezem Mendes Cologna.
O professor e coordenador da Unidade de Queimados, Jayme Farina Jr, chefe da Divisão da Cirurgia Plástica, garante que “antes da reforma, a nossa estrutura não era a ideal. A estrutura física da Unidade e os mobiliários eram antigos, e pudemos adquirir novos equipamentos para a melhor assistência e conforto aos pacientes, vítimas de queimadura. Era um local sem climatização, um problema para o clima quente de Ribeirão Preto. Hoje acredito que temos uma das melhores estruturas do país para o atendimento de pacientes com traumas agudos e sequelas de queimaduras”, afirma.
“A Unidade era um local muito quente, bem quente mesmo. A climatização foi um dos fatores que contribuíram para termos estímulo maior. O clima ficou melhor, as paredes são novas, as janelas eram de madeira bem velhas e agora tudo claro, novo. A mudança estrutural foi marcante para nós e para o paciente. A iluminação também. Parece que estamos em outro hospital”, garante Alessandra.
O ex-chefe de enfermagem Enéas Ferreira concorda com Alessandra e com o professor Jayme. “Não havia a infraestrutura almejada. As portas, janelas, pisos e outras estruturas físicas se tornaram arcaicas. Não havia capacidade física para avanços de rede digital. Não havia o conforto de temperatura ambiente adequada. Sofríamos com as altas temperaturas de nosso clima tropical, somadas a escassos mecanismos de ventilação. Os mobiliários eram antigos e desgastados. Agora o cenário mudou”.
Para ele, “Trabalhamos muito, por muitos anos, para que este projeto se tornasse realidade. Superamos dificuldades de toda ordem. Hoje, vejo e sinto, do fundo do meu coração, que esta reforma é, acima de tudo, um merecimento de todas as pessoas que, infelizmente, sofrem com as queimaduras e que encontram na UTQ um local de excelente assistência multidisciplinar. Um merecimento também ao nobre trabalho de toda equipe e ao HC”.
Para o professor Jayme Farina Jr, “o ganho é coletivo também para a equipe multiprofissional. Houve incremento de conforto e de assistência para os pacientes, mas também para os funcionários, porque sem a climatização, com a rotina dos curativos muito extensos e que demandam tempo prolongado, havia maior desgaste do funcionário. Felizmente, este projeto está se concretizando, é um orgulho para todos nós vermos como ficou a Unidade de Queimados do HC, nesta primeira etapa da reforma. Agradecemos sinceramente a todos os funcionários públicos que, de forma direta ou indireta, contribuíram e se empenharam para este projeto se tornar realidade”.
A reforma da Unidade de Queimados há muito era necessária, mas somente foi possível viabilizá-la, após o Hospital contar com a sensibilidade do Dr. Ronaldo Lira, Procurador Regional do Ministério Público do Trabalho da 15ª. Região, por meio do Dr. Wagner K. Amstalden, Chefe da Assessoria Jurídica no Ministério Público do MPT-15 que reconheceram a importância daquela Unidade para a população e a quem expressamos nossa gratidão, por disponibilizarem os recursos financeiros para a área.
Ensino e Pesquisa
Além da assistência aos pacientes, a reforma permitiu melhorar o ensino e a pesquisa. “O ensino para os alunos do internato e para os médicos residentes ficou de uma maneira mais prazerosa, porque nós temos um ambiente mais apropriado para discutir casos clínicos, para reuniões científicas, pois antes o espaço não era o ideal. Ainda chegarão novos equipamentos, computadores para os pós-graduandos poderem fazer seus estudos e desenvolverem os seus trabalhos. Está sendo fundamental essa readequação e modernização da Unidade de Queimados para o ensino, a assistência e a pesquisa”, diz o professor Jayme.
A reforma
As principais melhorias que se destacam no projeto de reforma dessa Unidade “passam por substituição de toda infraestrutura existente, por novas instalações de redes de hidráulica, elétrica, lógica e gases medicinais, bem como novo layout da área, contemplando banheiro privativo para cada enfermaria, áreas de isolamento, ambulatório, sala de atendimento multiprofissional, consultórios, posto de enfermagem, sala de reuniões, copa, vestiários e sala de TI toda climatizada, enfermarias com réguas de gases medicinais, chamada de enfermagem, banheiros com acessibilidade, iluminação de LED, bate macas em PVC, novos caixilhos, pisos em manta e porcelanato, mobiliário e equipamentos”, explica o engenheiro supervisor da Divisão de Engenharia da Unidade de Emergência, Gilmar Júlio.
Os Recursos
Os recursos para reforma e compra de equipamentos vieram de indenizações trabalhistas que permitiram ao Hospital realizar as obras na Unidade de Queimados. “Há questão de três anos e meio, a Assessoria Técnica nos pediu um projeto, porque havia a possibilidade dessa verba. Nós fizemos o projeto e o submetemos juntamente com outro da administração que acoplou um tomógrafo e uma subestação elétrica para a Unidade de Emergência. Felizmente, tudo isso foi contemplado”, explica o professor Jayme Farina.
O doutor Ronaldo Lira, procurador regional do trabalho do Ministério Público do Trabalho da 15ª. Região, um dos organizadores do grupo que escolheu o projeto do HC, disse que “na verdade, o grande beneficiário desta destinação será a sociedade. O HC de Ribeirão Preto foi credenciado para obter a verba do projeto pelo seu histórico e relevância na região onde está instalado. A instituição faz um excelente trabalho de interesse público e de atendimento aos pacientes do SUS, por isso, o MPT-15 acredita que a destinação foi muito acertada”.
A reforma na Unidade de Queimados e a compra de equipamentos para Unidade de Emergência são administrados pela FUPEME (Fundação de Pesquisas Médicas de Ribeirão Preto)
Acordo milionário
O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª. Região (TRT-15) e o Ministério Público do Trabalho da 15ª. Região (MPT-15) destinaram quase R$ 9 milhões para o HC investir na reforma da Unidade de Queimados, na instalação de um tomógrafo e na modernização da infraestrutura elétrica da Unidade de Emergência. A verba recebida faz parte de um acordo de R$ 200 milhões que a Shell BASF destinou a instituições indicadas pelo MPT, entre elas o HCFMRP-USP. As duas empresas foram processadas por negligência na proteção ao trabalhador e danos ambientais, no município de Paulínia, perto de Campinas.
O HCFMRP-USP agradece ao Tribunal Regional do Trabalho 15ª Região e ao Ministério Público do Trabalho 15 pela confiança depositada na Instituição que com certeza cumpre com a sua missão de atendimento ao público.
Histórias que se misturam
As histórias vivenciadas pela equipe da Unidade de Queimados são tristes e vêm acompanhadas de tragédias. Convido você, depois de ler os depoimentos, a fechar os olhos e imaginar as cenas em que os fatos aconteceram. É um exercício de empatia.
São pacientes iguais aos das histórias, que você vai ler abaixo, que vão se beneficiar do investimento feito na reforma da Unidade de Queimados. Em 2020, ano de pandemia, foram 101 internações, que duraram, em média, cerca de 1 a 3 meses. Em 2019, foram 147 internações.
“A vida do paciente queimado muda por completo. Eles ficam internados e vão embora de alta, mas não vão totalmente recuperados. Eles continuam com sequelas o resto da vida. Os nossos pacientes são muito sofridos e carentes”, afirma Alessandra, enfermeira chefe da Unidade de Queimados.
No ranking dos acidentes mais comuns, aparecem os com álcool em churrasqueiras, disco de arado, espiriteiras, rechaud (dispositivos para preparar/ aquecer alimentos); acidentes de trabalho; tentativas de homicídio e autoextermínio; escaldaduras com líquidos superaquecidos; choques elétricos.
Nos dois casos abaixo descritos, o álcool foi o produto usado.
História 1 – “Fui vítima de tentativa de feminicídio pelo meu ex-marido. Ele chegou em casa e não tinha dinheiro para comprar drogas e começamos a discutir. Ele pegou o litro de álcool e jogou em mim e tacou fogo. Eu fui correr, mas caí e comecei a me debater no chão para tentar apagar. Quando comecei a queimar, pensei: “Meu Deus, eu já morri”. Começou a arder muito, me debati muito no chão e desmaiei logo que o Corpo de Bombeiros chegou”.
História 2 – “Corri para a rua, tirei toda roupa e fiquei pelado. Você fica naquele desespero de querer apagar o fogo. Me vejo naquele dia até hoje, aparece minha alma ficando para trás e eu vendo meu corpo pegando fogo. Parece que a hora que o fogo apagou, a minha alma entrou de volta no meu corpo e tomou conta de mim. Daí me levaram para UPA e depois para o HC”.
História 1 – “Nunca imaginei que ele pudesse fazer isso. A fisionomia dele era normal, não estava nem aí para o que estava acontecendo, enquanto eu pegava fogo. Nunca vou esquecer”.
História 2 – “Passei na casa de um amigo e parei para conversar um pouco e resolvemos fazer uma comida, assar uma carne, mas não tinha churrasqueira. Pegamos um disco de arado, porém o suporte do disco não era apropriado, mas resolvi continuar fazendo. Enchi o disco com álcool 70º e coloquei a carne. Conforme fui fazendo, o disco caiu, explodiu e o fogo veio para cima de mim. Corri para a rua e o fogo continuava em meu corpo. Eu vi a pele cair do meu corpo”.
História 1 – “Cada dia de luta é um dia vencido. Quero passar uma borracha no passado, esquecer esse sofrimento e viver uma nova vida”, afirma.
História 2 – “O recado que deixo é que tomem cuidado. Num momento a gente está aqui e no outro pode não estar”.
A paciente da história 1 queimou o abdômen, braços, ombro, pescoço, cabeça e parte das costas. Ela ficou quase três meses internada e realizou cinco cirurgias. Ela saiu do hospital e foi morar com a irmã em outra cidade.
O paciente da história 2 ficou dois meses internado. Ele queimou as pernas, os braços, o abdômen e as costas. Voltou para casa dele.
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