A doença renal crônica pode ser evitada

No mundo a DRC afeta uma em cada 10 pessoas

No Dia do Rim (10/3) a professora doutora Elen Almeida Romão e o professor doutor Carlos Augusto Fernandes Molina, ambos da Divisão de Nefrologia – Departamento de Clínica Médica – atenderam ao Jornal do HC.

1 -Qual o motivo do dia mundial do Rim ser comemorado?

Em 2006 a Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) criou o Dia Mundial do Rim, celebrado na segunda quinta-feira do mês de março. É um dia onde são feitas ações voltadas para a prevenção da Doença Renal Crônica (DRC) em todas as nações do mundo. Cada ano esse dia promove um tema e em 2022 o tema central é conscientização e a educação sobre a doença renal. Para se ter noção da dimensão desse problema, estima-se que hoje no mundo a DRC afeta uma em cada 10 pessoas e apresenta taxas crescentes de acometimento na população. Estima-se que em 2040 se torne a 5ª causa de morte em todo o mundo.

2 – O que provoca doença nos rins?

Inúmeras doenças podem levar à diminuição do funcionamento dos rins, o que chamamos de doença renal crônica. As causas mais comuns da doença renal crônica são a hipertensão arterial e o diabetes mellitus. Como essas doenças são muito prevalentes na população, é necessário que haja campanhas e esforços em programas de prevenção.

No adulto, outras doenças que podem afetar o funcionamento dos rins, além do diabetes e hipertensão, são: as “nefrites”; a doença renal policística, as doenças que afetam o trato urinário como os cálculos (pedra nos rins); as infecções renais ou pielonefrites; os tumores ou câncer de rim, dentre as mais comuns.  Nas crianças, a principal causa da doença renal crônica são anomalias congênitas do rim e trato urinário. Nesse caso, o problema renal acontece já na infância.

Todas estas doenças podem evoluir para a doença renal crônica quando não são adequadamente diagnosticadas e tratadas. No entanto, o diagnóstico precoce e o acompanhamento médico podem prevenir que estas doenças evoluam para a falência dos rins.

3 – A doença emite sinais?

Em geral, a DRC não provoca sinais ou sintomas significativos até que os rins tenham um grande comprometimento do seu funcionamento, por isso a conscientização, as ações preventivas e o diagnóstico precoce dessa doença se tornam tão importantes.

À medida que os rins vão funcionando menos a pessoa pode passar a urinar em maior quantidade, com a urina clara e acordar muitas vezes à noite para urinar. Nessa situação geralmente não ocorre inchaço, o que dificulta o reconhecimento da doença. Nas fases mais avançadas da doença renal crônica, surge o inchaço e a diminuição da quantidade de urina (que nem sempre é percebida); pode acontecer anemia, percebida como palidez e fraqueza; falta de apetite e vômitos; agravamento da hipertensão arterial; sangramentos; coceira; alterações do sono, confusão mental e coma. Porém, estes sintomas só ocorrem na fase muito avançada da doença renal crônica, quando não há mais possibilidade de tratamento para recuperar ou estabilizar a função dos rins. No estágio final da doença há falência renal e é necessário substituir a função dos rins através da diálise ou do transplante renal.

A presença de espuma na urina ou sangue também é sinal de doença renal. O sangue pode ser observado como sangue vermelho em algumas doenças do trato urinário ou como urina escura com “cor de coca-cola”. Nesse caso, pode ou não haver inchaço acompanhado de diminuição da quantidade de urina.

4 – Como detectar a tempo?

A Detecção por ser feita através da realização de exames simples de rastreamento diagnóstico (creatinina sérica e exame de urina), especialmente na população de risco. Esse rastreamento deve ser feito em exames de rotina na atenção primária. Neste ano, a campanha do dia mundial do rim também prevê atividades para que os todos os médicos tenham formação mais focada no tema e para que sejam formuladas políticas em saúde pública de modo a priorizar a DRC nas agendas governamentais de saúde, junto às outras Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).

5 –  O que devemos fazer para evitar a DRC?

Manter hábitos de vida saudáveis com alimentação balanceada, prática de atividades físicas, não fumar e evitar a obesidade. Desse modo, previne-se a hipertensão arterial e o diabetes que são as principais causas de doença renal crônica e de doenças cardiovasculares. Também é importante fazer acompanhamento médico regular para o diagnóstico precoce destas doenças e, quando elas estiverem presentes, seguir a recomendação multiprofissional para mantê-las bem controladas. Como essas doenças produzem poucos sintomas, nem todas as pessoas percebem que precisam controlá-las para evitar as complicações como a doença renal crônica.

Outra estratégia importante é evitar a automedicação, pois muitos medicamentos podem causar prejuízos aos rins, um exemplo são os anti-inflamatórios. Nas crianças, o acompanhamento pré-natal e seguimento de puericultura adequado favorecem o diagnóstico precoce de anomalias renais e do trato urinário, permitindo o acompanhamento e minimizando o seu impacto na saúde dos rins.

6 –  A senhora percebe aumento no número de pacientes atendidos no HC?

Sim, existe um aumento progressivo na movimentação dos ambulatórios da nefrologia no decorrer dos anos, que condiz com as estatísticas latino americanas e de outras sociedades internacionais que demonstram o aumento da prevalência da DRC na população mundial. É estimado que 19 milhões de brasileiros tenham algum grau de alteração de função renal e, em torno de 148 mil pessoas, precisam fazer diálise para substituir o funcionamento dos rins.

7 – Se percebe, por que ocorre?

Como existe mais conscientização da população e maior qualificação dos profissionais de saúde, mais pessoas são diagnosticadas com a doença. Ou seja, a doença que é silenciosa passou a ser identificada em mais pessoas. Isso é muito desejável pois recebemos pacientes com mais condições de receber tratamento para se evitar ou retardar a perda dos rins.

Outro motivo é que as pessoas sobrevivem mais às complicações fatais do diabetes, da hipertensão arterial e de outras doenças (pelos avanços nos tratamentos médicos) e, assim, têm tempo de vida suficiente para evoluir com doença renal crônica.

9 – Quantos pacientes o HC trata com hemodiálise atualmente?

Atualmente o HC tem 100 pacientes em hemodiálise crônica, 23 pacientes em diálise peritoneal com cerca de 40 pacientes dialisando por causas agudas, transitórias (como nas UTIs).

10 – É possível tratar a DRC sem que haja hemodiálise ou transplante?

A hemodiálise e o transplante são terapias de substituição da função dos rins. São usadas quando os rins do indivíduo não são mais capazes de funcionar para manter a pessoa viva. Essas campanhas de conscientização servem justamente para que possamos receber os pacientes quando os rins ainda funcionam, em fases precoces da doença. Nesta situação, ainda podemos fazer tratamentos com remédios e mudanças no estilo de vida que evitem a perda renal ou que, pelo menos, retardam sua evolução.

11 – Quando o transplante é a última solução?

O transplante renal não é a última solução para o tratamento da falência dos rins. A pessoa com falência renal pode substituir a função dos rins tanto pela diálise (feita por uma máquina/filtro – chamada hemodiálise; ou feita na cavidade abdominal/barriga – chamada diálise peritoneal) quanto pelo transplante renal. O transplante renal é considerado a melhor modalidade de tratamento da DRC pois resulta em maior expectativa de vida, melhor qualidade de vida e reintrodução às suas atividades habituais da pessoa, principalmente ao trabalho.

Infelizmente nem todas as pessoas que precisam recebem o transplante, porque não há rins para todos. Por isso, ser doador e comunicar sua família que, caso aconteça algo com você, você deseja que seus órgãos sejam doados é muito importante. Essa é a ação que todos podem fazer e que pode salvar a vida de muitas outras pessoas. No final do ano passado estavam em lista de espera por um rim 27.613 pessoas. Para que se tenha uma ideia, foram feitos somente 4750 transplantes de rim no ano passado e antes da pandemia, em 2019, tinham sido feitos 6296 transplantes.

12 – Quantos transplantes foram feitos em 2020 e até o momento em 2021?

Aqui no HC em 2019 fizemos 65 transplantes renais. Devido à pandemia, no ano passado fizemos apenas 32, em 2020, 26 transplantes.  Felizmente, muitos pacientes seguidos conosco foram encaminhados para fazer a cirurgia em hospital de referência para transplantes da capital e, depois, retornaram para seguimento no HCRP. Assim, pudemos minimizar os prejuízos aos nossos pacientes. Mas, o número de doações de órgãos que se efetivaram também foi diminuído pela pandemia, causando a redução dos transplantes em todo o país. A conscientização das pessoas sobre a importância de se doar órgãos também é fundamental para que o transplante possa beneficiar os portadores de doença renal crônica que estão em lista de espera por um rim.

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