Por João Carlos Borda e Carlos Matheus
Sobre as mesas, prateleiras e armários, em meio a um cenário saturado de branco, centenas de peças, algumas ainda sendo finalizadas, que devolverão a liberdade de quem por doença ou por acidente perdeu parte do corpo. Para quem chega pela primeira vez, o ambiente lembra uma fábrica. E, de fato, é mesmo uma fábrica, que agora abre as suas portas para formar novos “oficineiros”, profissionais que confeccionam próteses e órteses.
Cinco alunas passaram por uma seleção e participam de um curso que ensina tudo sobre produção de próteses e órteses. O curso, promovido pelo Centro Interescolar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, é desenvolvido de forma on-line e presencial durante 4 meses. Nesse tempo, as alunas vão acompanhar aulas teóricas sobre ética, relações humanas, comunicação, autonomia e microbiologia. 60% do curso serão com aulas práticas, manipulando os materiais usados na produção das peças, como resinas e laminados.
Quem vê a pequena Emanuel, 2 anos de idade, correndo de um lado para o outro, não imagina o quanto ela ganhou versatilidade depois que passou a usar uma prótese na perna direita por causa de uma doença congênita. “Ela corre por todos os cantos. Se eu deixar, ela anda 24 horas sem parar”, conta a mãe, Josiane Carla.
Foram cenas como essas envolvendo Emanuel, de crianças pequenas usando próteses, que sensibilizaram a química Laís Ferreira e contribuíram para uma escolha. A filha de Viviane precisou ser internada no HC Criança. Durante todo esse tempo, enquanto cuidava da filha, ela viu de perto uma realidade que a levou a optar pelo curso: ”em 2021, minha filha teve um problema de saúde e passou a ser paciente do HC Criança. Nesse tempo, fiz muito contato com crianças que usavam próteses e vi o quanto eram importantes para possibilitar uma qualidade de vida a esses pacientes. Por isso, resolvi fazer o curso”.
A fisioterapeuta Viviane Davi viu a chance de ingressar em um setor profissional crescente: “o mercado ta bem aquecido. Tem muita gente precisando de prótese atualmente”.
De fato, os números mostram uma boa perspectiva para quem decide trabalhar no setor. Hoje, 33% das amputações no país são por causas externas, 17% por doenças infecciosas e parasitárias, 16% por doenças no aparelho circulatório e 13% são decorrentes de diabetes. A maioria dos pacientes amputados (75%) são homens.
O que motiva a decisão dos alunos, seja por razões pessoais ou pela busca da capacitação, vai ao encontro do compromisso do HC de Ribeirão: “o curso reforça a missão de contribuir para o desenvolvimento profissional e pessoal de nossa comunidade”, salienta o Superintendente do HC, Ricardo Cavalli.
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