Em tempos de covid-19 a tecnologia é aliada da fé

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Por Marcos de Assis
Validação Padre Josirlei

Desde o início da pandemia, o padre Josirlei, capelão do Hospital, atendeu há cerca de 45 pedidos de apoio espiritual por vídeo chamada.

 

Desde de 16 de março, o Hospital das Clínicas criou medidas para reduzir o fluxo de pessoas na Instituição com o objetivo de proteger pacientes, acompanhantes, funcionários e, ao mesmo tempo, preparar o Hospital para o atendimento à Covid-19.

Neste período, apenas os casos que possam trazer prejuízo aos pacientes estão sendo atendidos. Os outros serão remarcados após a quarentena. Essas restrições, no entanto, serviram para que a tecnologia se transformasse em aliada da fé. Desde março, o padre Josirlei Aparecido da Silva, capelão do Hospital, atendeu cerca de 45 pedidos de apoio espiritual por vídeo chamada.
Ele atende ao Hospital das Clínicas, Unidade de Emergência, Estadual de Ribeirão Preto e Mater. “O padre e a equipe do apoio espiritual ajudam o paciente a refletir. Se não está nas mãos do paciente mudar uma circunstância, diante de suas indagações do porquê está acontecendo isso com ele, o auxiliamos a encontrar o como fazer e novas percepções de sua circunstância”, explica.

O paciente ou qualquer um de nós temos que fazer a pergunta, “se estou vivendo isso, neste momento, o que posso fazer para encontrar um caminho melhor?”, afirma.

A conversa com paciente sempre começa com uma pergunta: Como estamos hoje? “A partir daí, a conversa começa. Neste momento, o que mais ouvimos é estou cansado, com medo, angustiado, me sinto sozinho. É um momento crítico, mas que pode mudar com nossa mensagem”, afirma. Segundo o capelão, “a equipe de enfermagem nos chama por videoconferência e coloca o paciente em contato. Nós conversamos, sinto suas angústias e medos e vamos conversando até que eu consiga passar a mensagem”, afirma.

Se o paciente não está consciente, a conversa é com o acompanhante que pediu a presença do padre ou de um integrante da rede de apoio.

Depois da conversa com o paciente, o padre procura a equipe de enfermagem e fala dos problemas que foram levantados na conversa para juntos encontrarem soluções para as pendências.

Baralho 
Um caso inusitado aconteceu com um paciente que estava isolado por causa da covid-19. Ele, 70 anos, estava inquieto e se sentindo só. “Na conversa que tive com ele, por vídeo, descobri que ele gostava de jogar buraco. Então arrumamos um jeito dele, com um tablet, jogar baralho com a mulher, que estava na casa do casal. Fiquei muito feliz por ter ajudado aquele paciente melhorar o tempo em que ficou internado”.

Para o padre, nessas horas as famílias podem usar a tecnologia para ficar mais perto de seus familiares internados. “Todos ganham com essa aproximação virtual”.
“Eu, por exemplo, estou aprendendo a usar essa tecnologia. Até outro dia não usava nem WhatsApp, agora é o que mais uso e me sinto muito bem. É só começar”, garante com sorriso de vitória.

Começo
Josirlei é padre há 15 anos. Formado em Brodowski pelo Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto. Há 13 anos é capelão na Unidade de Emergência e há seis no HC-campus. “Não esqueço até hoje a minha primeira capelania”, afirma. Ao chegar na UE, uma enfermeira o aborda sobre a situação de uma mãe que havia recebido a informação de morte encefálica do filho, que morreu em acidente de moto.

“Ela, claro, estava muito emocionada. Cheguei até ela e comecei a conversar. Ela pergunta sobre a doação dos órgãos. Respondo com uma pergunta: Qual sua religião? Ela responde que era budista e faço a segunda pergunta: O que Buda faria?”.

Ela se afastou e minutos depois voltou e confirmou a doação. “Foi um momento inesquecível. Ela estava sozinha em Ribeirão Preto (era de São Paulo) e não tinha nem lugar para ir. Arrumei hotel e dei todo o apoio necessário”, explica o padre.

Depois mandou uma carta para o Hospital agradecendo “aquele moço que a ajudou”. Ela não sabe meu nome até hoje e eu não sei o dela. Descobri que ser capelão bastava estar ao lado e se fazer um com ela. Ou seja, um mais um igual a dois”, concluiu.

 

Tecnologia como aliada a fé. Desde março, o padre Josirlei Aparecido da Silva, capelão do hospital, já atendeu cerca de 45 pedidos de apoio espiritual por vídeo chamada

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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