Aos 26 anos, ele mal imaginava que iria colocar seu nome na história da medicina sulamericana por participar do primeiro transplante de rim de cadáver a ser realizado na América Latina. Antonio Carlos Pereira Martins era um jovem cirurgião e foi escolhido pelo urologista e cirurgião Áureo José Cicconelli para retirar o rim de uma mulher, de 28 anos, que falecera no Hospital das Clínicas, hoje Unidade de Emergência.
Mas antes, ele foi escolhido para uma outra missão: convencer a família sobre a importância da doação. “Eu conversei com o médico que autorizou a falar com o marido. Primeiro falei sobre Deus, depois sobre a importância da doação, da solidariedade e expliquei que o órgão da esposa dele iria salvar outra vida. O marido entendeu o pedido, assinou a autorização e aí fui retirar o rim daquela jovem”.
Antes desse tipo de transplante, o HC de São Paulo havia realizado “três ou quatro, mas de doadores vivos. Com uso de órgão de cadáver, o primeiro foi o HC de Ribeirão”, explica. A cirurgia durou cerca de quatro horas e terminou por volta das seis horas da manhã. “No momento em que retirava o órgão, pensava no avanço que aquela cirurgia significaria para os pacientes. Veja quantas foram feitas desde então?”, indaga o professor Martins.
Não tem número exato, mas estima-se que cerca de 1.600 transplantes foram realizados desde fevereiro de 1968 no HCFMRP-USP. O professor Martins, que foi superintendente do Hospital das Clínicas por dois mandatos, entre 1987 e 1994, ressalta a importância do professor Cicconelli. “É necessário dar importância a quem teve importância e o professor Cicconelli foi o mentor e o responsável por toda cirurgia. Os créditos devem ser dados a ele”, finaliza.
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